A partir do ano que vem, o molusco turu, iguaria proteica dos rios da Amazônia, pode passar a compor a merenda escolar de Soure, no Marajó. A novidade virá como resultado de articulação conduzida pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), junto com os próprios pescadores artesanais, Prefeitura, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e organização não-governamental (ong) Rare Brasil, entre outros parceiros.
Na segunda-feira (29), uma roda-de-conversa na sede da Emater, no bairro Centro, consolidou a primeira etapa oficial de formação de um Grupo de Trabalho de inclusão de pratos típicos baseados em ingredientes do extrativismo na região, com ênfase em pescado e açaí.
No contexto do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), o objetivo é elaborar e propor coletivamente que a cozinha das escolas públicas do município ofereça refeições como coxinha assada e pastel assado de turu, caldo de gurijuba e bacu frito.
“É um processo lento, mas de passos sólidos. Alguns dos desafios são a adequação sanitária, o cuidado com elementos alergênicos, a aceitação pelo paladar de crianças e adolescentes, o respeito aos costumes e a organização de estoque, por isso é tão importante que o máximo de atores sociais interessados se reúna e trabalhe com afinidade, sempre com o protagonismo dos agricultores familiares”, aponta o chefe do escritório local da Emater em Soure, o engenheiro agrônomo Sandro Pinheiro, especialista em Biodiesel.
O profissional destaca a participação das mulheres moradoras da Reserva Extrativista Marinha de Soure, que já se encontram estruturadas nos chamados “grupos de poupança”, uma ferramenta de gestão financeira e empreendedorismo orientada pela Rare Brasil.
Maria Auxiliadora Lobato, de 39 anos, primeira-secretária da Associação da Reserva Extrativista Marinha de Soure (Assuremas), diz que a oportunidade de fornecer para a merenda escolar é “maravilhosa”: “É um momento de validação, de divulgação, não só da comida em si, como tradição, mas de toda a história da população a que pertencemos: é uma transmissão de valores e de saberes para as novas gerações”, considera. Junto com o marido, Dion Batista, de 42 anos, a extrativista chega a comercializar até mil caranguejos vivos por mês, na temporada de captura.
As filhas caçulas, Dione Maria, de 19 anos, e Jhenif, de 17 anos, seriam consumidoras imediatas, haja vista que cursam o ensino médio na rede pública: “E aí o ciclo cultural e socioeconômico se completa: a natureza dá, nós coletamos, as meninas consomem”, calcula.
Calendário
No próximo dia 8 de outubro, o grupo de trabalho assistirá a uma palestra sobre nutrição ministrada pela Secretaria Municipal de Educação (Semed), também na sede da Emater.
Texto de Aline Miranda
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